11 de setembro de 2007

Baixo nível

É notório o fato de que a imprensa esportiva é de baixíssimo nível e tendenciosa. Os que se dispõem a analisar o futebol então, por vezes são tão ignorantes quanto os boleiros que mal possuem o nível de escolaridade básica. Já o telespectador brasileiro com alguns neurônios a mais tenta escapar do mar de barbaridades da mídia esportiva recorrendo aos canais pagos de TV.

Todavia o nível do jornalismo praticado no país também permeia as saídas de emergência para quem não suporta pessoas “esclarecidas” como, por exemplo, Chico Lang ou Juarez Soares. O canal Sportv é famoso por escalar narradores e comentaristas que não sabem sequer o nome dos jogadores em campo e com freqüência torcem descaradamente contra um ou outro time. No seu concorrente, a ESPN Brasil, o nível é melhor, mas não muito. Apesar de abrigar pessoas competentes como Paulo Vinícius Coelho e Paulo Calçade, a emissora paulista dá abrigo a recalcados como Flavio Gomes e Fernando Calazans.

Este último é justamente o mote desta coluna. O programa Linha de Passe do dia dez de Setembro de dois mil e sete foi marcado por um inflamado discurso deste torcedor do Flamengo, carioca, jornalista e colunista do jornal “O Globo”, de pouca ou nenhuma relevância além das suas fronteiras. Como se não bastasse a falta de visão ao apontar o limitadíssimo time do Botafogo do Rio de Janeiro como virtual campeão Brasileiro em 2007 até poucas semanas atrás, o referido jornalista espinafrou o São Paulo Futebol Clube.

Sob desrespeitosos brados de “time medíocre” e “do São Paulo ao América é tudo a mesma coisa”, esta pessoa ultrapassou todos os limites da incompetência, bairrismo e falta de senso analítico para exercer a sua, ahm..., profissão. Sob o ponto de vista dele, o São Paulo é o ícone do futebol feio, faltoso, incapaz e de baixo nível praticado neste país.

Em primeiro lugar, seria interessante que alguém o informasse que o futebol mudou. Pelé, Garrincha, Gérson e Pedro Rocha já penduraram as chuteiras há muitos e muitos anos atrás. O futebol deixou de ser um esporte romântico para ser o maior negócio esportivo deste planeta. O preparo físico exigido dos jogadores no futebol contemporâneo e, pasmem, até as regras modificadas desde o fim do século passado mudaram o esporte radicalmente.

Somente na questão das regras, o futebol moderno dá um banho naquele praticado até o início dos anos 90. Hoje em dia não há mais recuo de bola para o goleiro. Acabou-se aquela cera desenfreada praticada por todos os times e ainda fez surgir uma nova categoria de goleiros, aqueles que sabem jogar com os pés e aqueles, ultrapassados, que não sabem. Outro advento dos tempos modernos, a exigência de pelo menos dez bolas espalhadas ao redor do campo para uma rápida reposição acabou com os apelativos chutões para a arquibancada que geralmente paravam o jogo por quase um minuto. Só com essas duas alterações, hoje em dia temos muito mais tempo de bola rolando do que tínhamos antigamente. Acredito que qualquer um que verdadeiramente gosta de futebol prefere o dinamismo de hoje a ver o goleiro Ronaldo rolar de um lado da área para o outro e gastar até dois minutos para recomeçar um jogo.

Quanto ao adjetivo de “feio” imputado ao São Paulo, eu me pergunto onde é que este senhor estava na Copa do Mundo de 90, 94, 2002 e, com exceção de um ou dois lances do Zidane, em 2006? Será que ele nunca viu uma partida do Grêmio, que desde que o mundo é redondo se orgulha de praticar um futebol viril e competitivo? Talvez ele também nunca tenha visto uma partida de “calcio”, cujo sistema tático é normalmente defensivo. Ou talvez ele não tenha visto o próprio campeonato Brasileiro ganho por equipes como o Coritiba, pra citar só uma. E os times do Felipão que com exceção de sete jogos da seleção Brasileira se caracterizam por praticar o antijogo? Por um momento pode-se até fantasiar que o Santos de Pelé encontrava adversários dispostos a jogar de maneira vistosa e ofensiva. É mesmo? Sei...

Ou talvez ele esteja usando os times europeus como parâmetro. Não é uma beleza a seleção Inglesa fazendo chuveirinho durante noventa minutos? E a seleção Alemã? Um encanto desde sempre. E o Barcelona? Joga muito bonito, contra o Getafe, Murcia e demais figurantes. Quando vale caneco, se jogar bonito, perde. Deve ser bonito perder.

Não havia uma campanha da Nike chamada “Joga bonito”? Mas que beleza. Na propaganda o Ronaldinho não amarelava pra ninguém e os seus dribles eram o máximo. E o mais engraçado é que esta campanha publicitária era apresentada pelo Eric Cantona, que batia mais do que o Mascherano e o Dinho juntos e num dia, já cansado de tanto bater nos jogadores adversários, deu uma “voadora” num torcedor. Aqueles comerciais me soavam como o capeta vendendo lotes no Céu. O tal do jogo bonito virou propaganda de TV para vender parafernália esportiva e não há como ser diferente.

Sobre as faltas, o que dizer dos times argentinos e uruguaios que desde os anos sessenta apelavam para substâncias dopantes e usavam de extrema violência para ganhar a Taça Libertadores ano após ano? Não foi na Copa de 66 que Pelé foi cruelmente caçado até perder qualquer condição física para jogar? E a MSI/STJD de Marcelo Mattos que distribuía botinadas do primeiro ao último minuto de jogo? Será que ele estava dormindo durante Portugal x Holanda na última Copa? Pois naquele jogo só faltou César na tribuna de honra e alguns tigres e leões famintos em campo.

Portanto é fácil concluir que este jornalista não está apto a fazer qualquer análise sobre futebol e muito menos discorrer sobre o São Paulo Futebol Clube. Afinal ele fantasia sobre um futebol que pouco existiu e deprecia injustamente uma boa equipe.

Pois um time que abre tamanha vantagem sobre os demais competidores, ostenta números e aproveitamento invejáveis, conta com jogadores diferenciados como Rogério Ceni e Dagoberto pode ser muita coisa, menos mediano. Para quem não consegue enxergar isso, resta apenas fantasiar e alimentar o próprio recalque.