17 de novembro de 2006

Invasão é roubada

Foto Paulo Pinto/Agência Estado

Estou espantado com as pré-discussões sobre uma possível invasão de campo para a comemoração do Tetra. Por um lado a diretoria tricolor comenta que será difícil conter tal ato e por outro lado muitos torcedores defendem essa atitude pela comemoração total.

Mas as coisas não são bem assim. Estamos no século XXI e invasão de campo, por qualquer motivo, não é mais tolerada e costuma ser punida com perda de mando de campo. Além disso, é um comportamento primitivo, desagradável e injustificável.

O grande risco que correremos é o de perder a oportunidade de levantar o caneco, em casa, no jogo contra o Cruzeiro. No caso de invasão, o réu seria o São Paulo. O único clube que vota contra o Ricardo Teixeira, o clube que não se intimida pela Rede Globo e o time que mais apanha no STJD. Você acha inteligente dar mole para essa turma?

Cada vez que uma invasão acontece, mais distante ficamos do primeiro mundo do futebol. Sim, o futebol não é restrito aos jogadores em campo. A torcida exerce um papel, por vezes decisivo, e está inserida no contexto geral do esporte. Cabe a nós decidirmos que tipo de torcida queremos ser. Ou somos organizados, respeitáveis e civilizados ou optamos pela balbúrdia, a desordem e a falta de educação. Portanto podemos nos comportar como galinhas e invadirmos o campo como quem passa de um cômodo a outro na sua própria casa ou nos portamos como os ingleses, que se restringem a torcer e comemorar na arquibancada e por causa disso têm a oportunidade de ver o jogo rente ao campo e nós sempre temos um fosso ou uma grade nos separando dos jogadores.

Os próprios jogadores, aqui no Brasil, se sentem melhor por estarem longe da torcida. Será que alguém vai entrar aqui e me agredir? Será que vão tirar minha roupa? Ninguém se lembra das cenas dos "torcedores" organizados em Mogi-Mirim, no Paulistão de 2005, praticamente coagindo os jogadores a lhes entregar camisa, calção, chuteira e até meias? Alguém quer um par de meias de um jogador de futebol após noventa minutos de jogo? Eu não!

Mas por quê deveríamos comemorar com tamanha intensidade? Por acaso é o Campeonato Universal ou é um Campeonato Brasileiro? Porque do Brasileiro nós já temos três títulos. E temos muito mais do que isso. Temos três Mundiais! Um Campeonato Brasileiro não é motivo para agirmos como torcedores que nunca ganharam coisa alguma. Temos que dar o devido valor às coisas. Qual foi a impressão que ficou quando duas dúzias de torcedores invadiram o gramado quando nos classificamos frente ao time dos Estudiantes para as semifinais da Libertadores deste ano? Exagerados, deslumbrados ou idiotas? Ou tudo ao mesmo tempo? Sim, porque poderíamos deixar de disputar a semifinal no nosso estádio e já havíamos passado por situação semelhante pelo mesmo torneio dois anos antes contra o time do Rosário Central.

Entendam que a Libertadores de 92 ficou no passado. São momentos e posturas muito diferentes das que ostentamos hoje. Nos tornamos os maiores do mundo dentro de campo e agora não podemos ser menos do que isso na arquibancada.