24 de novembro de 2006

A banalização das palavras

No começo da década de 90, após a abertura econômica do Brasil, houve um fenômeno verbal de repetição que assolou toda a imprensa e a sociedade. O termo “globalização” passou de palavra quase exótica para uma palavra de aplicação universal. Do preço do pãozinho francês ao setor automobilístico, tudo estava relacionado à chamada globalização. Era a causa e o efeito, a desculpa e o objetivo.

Isto posto, responda rapidamente: quantas vezes você ouviu as palavras “planejamento” e “estrutura” associadas ao sucesso do São Paulo neste ano?

Cinqüenta, cem, trezentas vezes? Com certeza nem eu e nem você anotamos exatamente a quantidade de vezes que estas palavras foram repetidas em reportagens de rádio, TV e jornal, nas colunas escritas e faladas e nos programas de mesa-redonda que assistimos semana ou diariamente. Porém é certo que foram muitas. Tantas vezes que nós até acreditamos, alguns mais e outros menos, que eram a representação fiel de porquê um time é bem sucedido ou não.

Desde o começo do ano a crítica especializada passou a apontar esses fatores como o quê nos diferenciava de quase todos os clubes de futebol no Brasil. Como se isso fosse liquido e certo e como se fosse um conhecimento que se democratizava ao se tornar público e notório. Também é verdade que pela exagerada repetição destas palavras, muitos até pareciam estar implorando para que os seus times de coração seguissem o mesmo caminho, como se ali estivesse a tábua de salvação para as suas próprias infelicidades pessoais.

A boa notícia para os são-paulinos e a má notícia para os outros torcedores é que veremos uma horda de clubes dedicados a gastar muito dinheiro para montar suas estruturas e dedicar horas e mais horas para planejar minuciosamente as suas temporadas. E por que isso nos é uma boa notícia? Porque eles errarão o alvo mais uma vez enquanto nós continuaremos a aumentar nossa distância do resto.

Veja que o Palmeiras montou uma academia moderna, a MSI despejou milhões de dólares em Itaquera e o Santos chegou até a construir um hotel e conta uma comissão técnica que já pode até ser chamada de estável. Mas mesmo com tudo isso os seus jogadores sofrem seguidas contusões, não ostentam boa performance física e muitos deles são simplesmente pernas de pau.

O São Paulo Futebol Clube não é o principal clube do Brasil por causa destas duas palavras. O nosso segredo não é este. O que nos diferencia do resto é a responsabilidade e a competência.

Absolutamente tudo no São Paulo depende da contribuição pontual de uma boa quantidade de especialistas. Do jardineiro ao presidente todos executam as suas tarefas com a devida seriedade para que todos obtenham o melhor resultado, que acaba transparecendo na competitividade da equipe e eventualmente na conquista de títulos.

Os funcionários responsáveis pela fisiologia, nutrição, fisioterapia e condicionamento físico, entre outros, são diretamente responsáveis pelos resultados obtidos em campo. Só pra citar alguns, o Reffis depende do Rosan assim como o plantel de jogadores depende do tipo de profissional que é trazido ao São Paulo pelo Milton Cruz e a fisiologia, a cargo do Dr. Turíbio, é essencial para a preparação dos jogadores ao longo do ano.

A seleção rigorosa e a manutenção dos profissionais do São Paulo são fundamentais, tanto é que temos uma já estabelecida tradição de recuperar jogadores, veteranos ou não, e extrair deles um bom desempenho. Não é uma simples coincidência que jogadores como Luizão e Amoroso jogam bola pelo São Paulo e não jogam nada em outros times. E Fabão e André Dias, por exemplo, foram dispensados sumariamente acolá e brilham com a nossa camisa.

Ao chegarem no Morumbi eles estavam cientes de que deveriam encarar as suas responsabilidades e entregar a performance esperada. E que para tanto eles tinham à disposição todo o esforço dos nossos profissionais, que em suas respectivas áreas seguem as mesmas determinações. No São Paulo não há desculpa para corpo mole. Se você está lá é porque tem capacidade para tal e, portanto, deve usar suas habilidades e conhecimentos na plenitude e em conjunto com os outros. Não há o acaso, não há sorte ou azar, simples planejamento ou estrutura que se sobreponham ao trabalho sério de uma equipe competente.